A pandemia chacoalhou o mercado publicitário do futebol brasileiro. Mas a incerteza sobre os rumos dos contratos deu lugar a novos acordos fechados entre marcas e clubes nos últimos meses. Desde que o coronavírus chegou, foram 34 novas parcerias firmadas pelos clubes da Série A. Houve ainda 11 prorrogações, como a da Tim com os quatro grandes do Rio, e oito rescisões, vide Azeite Royal, também com o quarteto carioca.
A retomada do calendário nacional, em agosto, fez com que o terceiro trimestre do ano fosse responsável pelas maiores fatias de arrecadação dos clubes com patrocínio — pelo menos observando os que publicam balancetes. No Flamengo, 38% dos R$ 93,3 milhões de receitas comerciais vieram no período. Os números consolidados do ano só sairão em abril.
O Fla teve três novos contratos de patrocínio durante a pandemia. Além do BRB como master, vieram Konami e, no fim de novembro, a Union Life — este ainda não aparece no bolo dos três trimestres. A diretoria, inclusive, está em prospecção de um substituto para a MRV. Segundo o colunista Lauro Jardim, a empresa já avisou que não fica em 2021.
A construtora segue como uma das fortes parceiras do Atlético-MG. Inclusive, com o envolvimento do proprietário, Rubens Menin, que investiu, na pessoa física, em contratações para o clube no último ano. De qualquer forma, o clube mineiro firmou três novos contratos durante a pandemia.
— No início, todo mundo estava no escuro. Clubes e empresas. Tive uma suspensão de um mês de um patrocinador e outro que, por dois meses, reduziu para 50% a parcela dele. Conseguimos trazer a Betsul e mais duas marcas, além dessa. Mantivemos os outros contratos e ainda batemos a marca de abertura de contas no BMG. Ganhamos bônus. O aperto foi mais no início — avaliou Pedro Henrique Melo, gerente de patrocínios do Atlético-MG. — Para o ano que vem, a maioria indicou que vai renovar. Não é terra arrasada.
Entre os clubes com números publicados, o Corinthians teve o segundo melhor desempenho comercial até setembro. Apesar de ter perdido a Marjosports, fechou com Galera Group e Positivo. Com a conclusão do terceiro trimestre, foram R$ 67,6 milhões arrecadados (considerando licenciamento e royalties). Entre julho e setembro, R$ 21,1 milhões.
Permutas e contratempos
O Palmeiras tem relação estável com a Crefisa, o que impulsionou R$ 135 milhões em receitas comerciais em 2019. Nos balancetes publicados até novembro, o clube não discriminou quanto ganhou em cada setor.
No Fluminense, o salto de receitas comerciais no terceiro trimestre, proporcionalmente, foi até maior que o do Flamengo, mas com valores absolutos muito inferiores: o clube arrecadou 81% dos R$ 5,1 milhões.
A gestão Mário Bittencourt é adepta às permutas em troca de exposição no uniforme tricolor. Logo, em vez de contabilizar como receitas, serviços prestados por parceiros são abatidos nas despesas. Assim funciona a relação com o Hotel Nacional, por exemplo, que chegou neste ano. Mas outras marcas vieram para aportar dinheiro, como a Zinzane — que também fechou com Botafogo e Bahia.
O alvinegro, inclusive, está entre os clubes que mais tiveram contratos novos. Foram quatro. O reflexo em termos financeiros não pode para ser medido externamente porque o clube não publica balancetes. De qualquer forma, o Botafogo tem nova marca para o espaço master e as partes frontal (Centrum) e barra traseira (Eletromil), além da Zinzane nos ombros.
A STX ampliou o contrato para ficar nas costas. Esse é justamente o espaço que ficará com a QVE Brasil, caso o contrato seja reativado. A companhia seria patrocinadora master, antes da Gold Meat, mas perdeu permissão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para comercializar produto e fazer publicidade.
O Vasco fechou o terceiro trimestre com R$ 11,9 milhões de receitas comerciais. O clube até publicou balanços dos trimestres anteriores, mas não discriminou os itens de arrecadação. A tacada do clube no ano foi o contrato com o Mercado Bitcoin, que rendeu adiantamento de R$ 10 milhões em novembro e uso da barra frontal da camisa.
—É importante notar o valor que a exposição durante os jogos pode ter para as empresas. Hoje, a atenção está muito fragmentada. Cada pessoa vê o que quer quando quer, usando as plataformas on-demand. Um jogo de futebol ainda mobiliza muita gente para ver a mesma coisa ao mesmo tempo e isso é muito valioso, tanto pela exposição de marcas nas camisas, placas e backdrops quanto pela possibilidade de ativar durante a partida nas redes sociais — avalia André Monnerrat, diretor de negócios da Feng, empresa especializada no segmento.
O Santos precisou lidar com uma crise de imagem gerada pelo contrato assinado com o atacante Robinho, condenado por estupro na Itália. Os patrocinadores ameaçaram saída em massa. A Orthopride concretizou o rompimento, abrindo espaço nos números do uniforme.
A diretoria estava atrás de um substituto, tanto que a Konami preencheu espaço contra o Ceará. Entre julho e setembro, o clube arrecadou R$ 21,1 milhões, 37% das receitas comerciais somadas até o terceiro trimestre de 2020 (R$ 67,6 milhões).
Fonte: O Globo Online
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