A Confederação Sul-americana de Futebol (Conmebol) publicou no mês de dezembro o Manual do Orientador, uma espécie de guia aberto para consulta com diretrizes para o desenvolvimento do esporte na América do Sul. E o Brasil contribuiu. Partiu de Viçosa, na Zona da Mata mineira, parte do conhecimento que colaborou para o programa. Um dos representantes brasileiros é Israel Teoldo da Costa, coordenador do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol da Universidade Federal de Viçosa (UFV), que foi indicado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Ele assina o material ao lado de outros pesquisadores sul-americanos, incluindo os também brasileiros Próspero Paoli, Carlos Thiengo e Rodrigo Leitão. De acordo com Israel, o manual oferece um caminho para uma metodologia de treino humanizada, com foco na inteligência e na criatividade do jogador em campo. – Eles resolveram fazer os manuais de cada modalidade. É como se fosse um guarda-chuva, um manual que vai orientar a confecção dos demais manuais: do futebol, do beach soccer, da formação de goleiros… é um direcionamento que a Conmebol quer dar ao conhecimento aplicado dentro do futebol – explicou. O manual, que está disponível gratuitamente para download no site da Conmebol, é disponibilizado em português e espanhol. O material é destinado a treinadores e profissionais que trabalham com jovens atletas de 14 a 20 anos e oferece princípios gerais para o esporte, valorizando as características do futebol sul-americano, com ênfase na importância da relação do treinador com os jogadores. Professor da UFV por 30 anos, Próspero Paoli é outro acadêmico que assina o material. Atual coordenador metodológico das categorias de base do Vasco, ele contou que o manual é uma medida necessária para o desenvolvimento do futebol no continente. Após o guia geral, serão lançados também manuais específicos para outras modalidades, como futebol feminino, futsal e futebol de praia. – É uma medida mais do que necessária, já era tempo de a Conmebol ter um guia orientador. Claro, cada país com a sua cultura, sua especificidade, seu DNA, cabe a cada país trabalhar também e se estruturar, como a CBF está fazendo. Eu e Israel estamos desde julho do ano passado prestando consultoria para a CBF para estruturar um caderno de diretrizes metodológicas para o futebol brasileiro, sempre respeitando a identidade de cada clube, por ser um país continental. Esse da Conmebol é uma forma de tentarmos estabelecer uma metodologia para o futebol sul-americano – disse o pesquisador, que também é instrutor dos cursos de qualificação de treinadores da CBF, destacando que a UFV foi a única instituição de ensino da América do Sul ligada ao projeto. De acordo com Israel, que teve recentemente dois projetos selecionados em fórum com chancela de órgãos como Fifa e Uefa, a ciência aplicada ao futebol é um caminho sem volta e que alcança também quem está no topo da cadeia de tomada de decisões, o que também vai chegar ao futebol brasileiro. – O futebol está abraçando a ciência aplicada, não dá mais para fazer futebol no achismo. A cada dia mais se torna uma atividade profissionalizada, com todos os envolvidos tendo formação, e obviamente você tem que explicar o que está acontecendo para diferentes atores desse processo, dirigentes, treinadores… A chegada da ciência do futebol na América do Sul – na Europa isso já é realidade – vai mostrar o desenvolvimento para termos um retorno maior. Questionado sobre como espera que a produção científica impacte no futebol sul-americano como um todo, o pesquisador da UFV listou três sonhos que espera ver alcançados. – Um é ter quatro sul-americanos na semifinal da Copa do Mundo. O segundo, que possamos oportunizar mais crianças a seguirem seus sonhos, e com esse tipo de trabalho conseguimos fornecer informações para que as crianças que têm condições possam chegar mais longe. O terceiro é que tenhamos uma formação mais ampla de pessoas, dirigentes, presidentes, conselheiros. Com acesso à informação, dificilmente se comete erros primários. Ninguém compra uma Ferrari para andar numa rua de pedra. Não adianta ter boa condição humana com infraestrutura muito baixa, essa formação dos dirigentes deveria acontecer para ser sincronizado o trabalho do corpo técnico com a parte diretiva – encerrou Israel.
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