Tricampeão brasileiro, tricampeão da Libertadores e campeão do Mundialito, além de outros diversos títulos ao longo de sua trajetória. Enquanto no campo as coisas não vão bem há algum tempo, na areia o Vasco vive um período de glórias e soberania, mesmo em uma realidade paralela à dos jogadores que atuam nos gramados. A começar pela remuneração, os atletas do Beach Soccer sequer recebem salários do clube. Todos os custos para as competições são oriundos dos patrocinadores particulares captados pela equipe. Na fase de preparação para o Campeonato Brasileiro, por exemplo, o elenco ainda enfrentou problemas com uniformes, já que o Vasco trocou de fornecedor — de Diadora para Kappa -= e o time de futebol de areia teve dificuldades para recebê-los, o que fez com que treinassem com shorts da antiga marca. Agora, com mais um título nacional conquistado no último domingo (22), em vitória nos pênaltis sobre o Sampaio Corrêa, o Trem Bala da Areia espera um suporte maior de investidores. "Da forma que tem repercutido, espero que isso venha influenciar de uma forma positiva, até porque muitas pessoas não sabem da nossa realidade, nosso desafio sem uniformes antes do Brasileiro. Para não apontar ninguém, a gente sabe que o Vasco não deu [os uniformes], mas para o Vasco liberar tem uma pessoa encarregada disso. Depois, conseguiram a camisa da Kappa, mas o short de treino era da Diadora. Temos que ter um mínimo, mas como o grupo é bem forte, os mais experientes sempre reuniam a galera e diziam: 'a gente sabe que vai ser difícil, que está complicado, está feio, mas vamos continuar nossa caminhada, treinando, que Papai do Céu tem o melhor lá na frente", revelou Catarino, um dos destaques da equipe e também jogador da seleção brasileira da modalidade, em entrevista ao UOL Esporte. Mesmo com todas as adversidades, o atleta enalteceu a conquista e aproveitou também para provocar o rival Flamengo, que foi superado nas semifinais com uma vitória de virada, nos últimos minutos, com gol do goleiro Rafa Padilha. "Só nesse campeonato tivemos três títulos: vencemos as dificuldades extracampo, o Flamengo na semifinal, e o Campeonato Brasileiro" A realidade do jogador de Beach Soccer por aqui ainda é dura. Por conta disso, a única maneira de ser melhor remunerado é ir para a Europa, onde ficam de três a quatro meses antes de retornar ao Brasil. Catarino, por exemplo, já atuou na Itália, Rússia e Portugal. Outros profissionais também foram integrados à Marinha, algo que lhes dá mais estabilidade na carreira. "Aqui não temos salário, mas muitas vezes viajamos para a Europa, fazemos um pé-de-meia, e aí depois formamos esse 'time de amigos', de torcedores do Vasco. Juntamos o útil ao agradável", explicou Catarino. Cria do Chapéu Mangueira, Catarino quase desistiu da carreira Do atual elenco, Catarino é um dos jogadores mais identificados com o torcedor, fruto de sua entrega e paixão genuína pelo Vasco. Cria do Chapéu Mangueira, comunidade na zona sul do Rio de Janeiro, o atleta de 30 anos começou no campo, mas pela proximidade com a praia, já atuava também na areia, só que no futebol de 11. Após ser descoberto pelo lendário Júnior Negão, multi campeão com a seleção brasileira da modalidade, ele passou a atuar no Vasco, mas sentiu muitas dificuldades com as adaptações às regras do Beach Soccer e, por pouco, não desistiu, principalmente após ser cortado de uma competição. "No final de 2010, comecei a treinar e jogar. Vi que tinha condições, oportunidades e continuei, até que teve um desafio na arena entre Vasco e Botafogo, levaram 11 jogadores e me deixaram de fora. Era meu sonho jogar naquela arena, sempre fui lá acompanhar quando era criança. Depois desse corte, eu decidi largar o esporte, mas um amigo me mandou uma mensagem que mexeu comigo, me incentivando, dizendo que tinha sido 'panela'. Então, decidi que, na segunda-feira, eu ia ser o primeiro a chegar e o último a sair do treino, até chegar o momento que eu mesmo ia selecionar o time que eu iria jogar. Acabou que fiz tudo o que falei que iria fazer, e as coisas começaram a acontecer", destacou. Na sequência, acabou ganhando visibilidade na disputa de um Mundialito onde fez um golaço de falta sobre o Corinthians — que era a base da seleção — e a pintura foi narrada pelo histórico apresentador da Globo Léo Baptista durante a transmissão de um jogo do Vasco do campo. "Depois dali, fui para a Itália, onde fui campeão italiano, e, em 2013, fui convocado pela primeira vez para a seleção brasileira", disse. Por conta de sua carreira vitoriosa, Catarino não mora mais na comunidade do Chapéu Mangueira e hoje vive na Tijuca, bairro de classe média da Zona Norte do Rio de Janeiro. Além disso, é terceiro sargento da Marinha do Brasil e cursa faculdade de Gestão Financeira. "O esporte muda vidas. Eu sou uma vida que foi mudada, vim de comunidade. Se não fosse o Beach Soccer, não sei o que seria da minha vida", declarou. Entrosamento é o segredo do sucesso do Vasco Mas afinal de contas, qual o segredo para o Vasco estar tão soberano no Beach Soccer? Segundo Catarino, o entrosamento é o mais importante e vem desde os tempos de "Colorado", o tradicional time de futebol de areia para 11 que atua nas praias do Rio de Janeiro. "Sempre procuro dizer que o extracampo faz muita diferença, e isso também ajuda quando se tem qualidade. O Colorado é um time de tradição da praia e jogávamos todos juntos. No Vasco, com o passar do tempo, sempre mantivemos a nossa base", destacou. A boa campanha fez com que o Vasco tivesse seis jogadores convocados para a seleção brasileira: Rafa Padilha, Catarino, Jordan, Benjamin Jr, Mauricinho e Lucão. No Campeonato Brasileiro, Rafa Padilha foi eleito o melhor goleiro e Lucão foi o artilheiro da competição ao lado de Datinha, do Sampaio Corrêa. Campello, Leven e Salgado parabenizam por título Em meio a todo o caos do processo eleitoral do Vasco, o atual presidente, Alexandre Campello, e os candidatos que brigam juridicamente para oficializar suas vitórias, Jorge Salgado e Leven Siano, utilizaram as redes sociais para manifestar seus parabéns pela conquista do tricampeonato brasileiro.
Fonte: UOL
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